Após ter colocado o último post no blog, apercebi-me que bastantes leitores têm dentro deles o mesmo sentimento que eu tenho pela Serra da Estrela.
Falando das minhas vivências na Serra da Estrela, “sou do tempo” (quando ainda era um fedelho) em que nos sábados de tarde ía para a Serra, fazer o belo do piquenique e dar uns pontapés na bola, enquanto os mais velhos se entretiam a dormir a sesta.
Os spots escolhidos eram vários, mas os mais frequentes eram o Covão da Ametade e as proximidades da “Santa” a caminho da Torre. Durante as férias, lá vinham os 15 dias passados nas Penhas da Saúde, local onde esmurrei os joelhos, até aprender a andar de bicicleta. Mais tarde, com uma “bicicross” comecei timidamente a aventurar-me pelos caminhos da Serra. Depois veio aquele fatídico dia do grande incêndio da Serra da Estrela, que fui controlando à distância e tristemente assisti ao seu avançar, sem que os meios existentes o conseguissem debelar. Talvez este dia, olhando agora a esta distância, tenha marcado o fim de um ciclo em que muitos Covilhanenses se deslocavam até à Serra para passar parte dos seus tempos livres. Digo isso, porque também falo por experiência própria. Foi triste ver, de um momento para o outro, a Serra totalmente destruída. Era demasiado doloroso… Mas a vida continua e há que olhar em frente. Pouco tempo após o sucedido, a natureza começou a fazer o seu papel e inclusive alguma da vegetação existente começa de novo a renascer. Renasce a Serra e recomeçam as minhas idas para a montanha a pé ou de BTT. Caminhadas (diurnas e noturnas), passeios, raids, já fiz de tudo um pouco pela imensidão da Estrela. Cada vez que ía para fora, lembrava-me da falta desse monte onde a Covilhã está apoiada, mas que apesar desse apoio tantas vezes lhe vira as costas. E é a este ponto que queria chegar. A Serra da Estrela está a sofrer. E sofre sobretudo pelo abandono que as gentes da Covilhã (e não só) lhe têm dado os últimos tempos. Ela necessita de apoio, de afeição, de cuidado. Como? Julgo que a resposta não é através do que se lhe vem dando. Penso que se a Serra pudesse falar já teria gritado com tanta “ferida” que se lhe está a causar. Mas como não se pode queixar, assiste impotente ao que lhe está a acontecer. As suas faldas cada vez mais reduzidas, o seu interior cada vez mais urbanizado (veja-se a zona das Penhas da Saúde), mais esventrado de estradas a que chamam verdes (imagino se fossem de outra cor) e o seu coração cada vez mais atrofiado (planos de desenvolvimento para a zona da estância), para não enumerar mais casos.
Quem a pode salvar? Todos nós! Entre outras coisas eu faço este blog, que nasceu da revolta que um dia senti quando me desloquei da Covilhã até Manteigas e vi o estado lastimoso em que se encontrava a nossa Serra naquele dia.
Melhoras desde aí? Não… não vi grande coisa. Novidades aconteceram muitas, mas não em prol da protecção da nossa Serra. Veja-se os casos mais sonantes como por exemplo a mini-cidade de montanha que se está a anunciar para a zona das Penhas da Saúde, bem como o aumento do perímetro da estância na zona da Torre ou ainda os 100 milhões que aí vêm e que por agora só vi referenciados projectos que exigem construção, construção, construção…
Para muitos o meu discurso pode ser algo lamechas, mas como o blog é da minha responsabilidade escrevo o reflexo da minha opinião. Assim sendo, gostaria de dizer que se para muitos o caminho certo é este, também há gente que acha o contrário e que, infelizmente, teima em não ser ouvida. O que acho é que a Serra é de todos e o que se tem assistido ultimamente é que certas entidades têm realizado o que “bem querem e lhes apetece” sem que sejam responsabilizados pelos seus actos. Depois de visitar algumas Serras lá fora, nomeadamente Sierra Nevada e Pirinéus (e não durante o Inverno em que a neve cobre tudo e tudo fica tão lindo) apercebi-me que o turismo que se tem desenvolvido na Serra da Estrela é totalmente irreal. Não é que a minha opinião já não fosse essa antes de ir a esses sítios e consultar sites na net de outros locais que um dia ambiciono visitar, mas os últimos tempos certos acontecimentos têm provocado dentro de mim uma revolta tão grande que tento, através deste blog, aliviar um pouco esse sentimento. Desde que criei este blog apercebi-me que mais gente também tem essa mesma opinião e isso para mim tem sido uma verdadeira surpresa. Haver um feedback tão positivo em relação a certos casos que tenho denunciado bem como leitores que me enviam fotografias para denunciar outros casos têm-me dado ânimo para manter minimamente actualizado o blog.
E não faço isto com a intenção de atacar a entidade A, B ou C. Nem com motivações politico-partidárias, nem com o objectivo de algum dia vir a ocupar um qualquer cargo importante nas chefias de alguma entidade responsável da Serra da Estrela.
Faço isto, porque sinto que tenho que libertar o sentimento que trago dentro de mim e sobretudo para tentar evitar que a nossa Serra entre numa fase irreversível em que voltar atrás será já um passo impossível. Faço isto sobretudo para que os meus filhos e os filhos dos meus amigos, possam viver a Serra melhor ainda do que eu a vivi, onde possam ir “piquenicar” com a família a algum sítio onde ainda haja árvores, onde possam aprender a andar de “bike” sem que nenhuma das limousines dos clientes de casinos os atropelem, que os papás possam dormir a sesta sem que o barulho dos bares e discotecas da mini-cidade de montanha os possa incomodar e quem sabe, se por acaso ainda nevar, usufruir da estância para fazer um pouco de ski ou snowboard, enquanto os seus amigos dão uma volta de BTT ou fazem um passeio ou um pouco de escalada, etc, etc, etc…
Ps: para finalizar gostaria de dizer que paralelamente a este blog também tenho o Maravilhas da Estrela em que mostro o lado bom da Serra, o lado do bem saber fazer, o lado para o qual a nossa Serra deveria de se encaminhar…
Ps1: para finalizar (e desta é que é) gostaria de referir que Cova Juliana não é nenhum “nome de autor anónimo” com o qual assino os meus artigos. Trata-se sim do pseudónimo que escolhi. Da wikipedia retiro esta frase “Pseudónimo é normalmente um nome inventado por um escritor, um poeta, um jornalista ou artista que não queira ou não possa assinar suas próprias obras”. Durante a História, muitos foram os indivíduos que usaram pseudónimos, muitos ainda usam e muitos continuarão a usar no futuro…
quarta-feira, janeiro 17, 2007
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4 comentários:
Ora bem, Cova Juliana!
Same Here!!Deixa lá escapar esses sentimentos que de gente "entupida" está a Turistrela cheia!!!Abraço e bom trabalho.
PS:Já agora, a noticia tambem saiu no DiarioXXI ontem na net.
Olá Cova Juliana,
Posso assinar também por baixo?
Parabéns e que continue sempre aqui a deixar os seus pensamentos...
O amor pela Serra é algo que une muitos...e não apenas os nascidos aí; veja-se o grande Miguel Torga que lhe teceu dos mais bonitos comentários que conheço.
A mim desafiaram-me para iniciar uma petição contra a poda das árvores; e todos nós, não poderemos iniciar uma, visando que o Estado reconsidere a concessão à turistrela? Sabendo, como sei, que os problemas da Estrela não se esgotam aí...
Um abraço
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