domingo, dezembro 03, 2006

O belo do folheto promocional...

No outro dia passei pela RTSE, nas suas instalações da Covilhã, para pedir informação da Serra da Estrela para enviar a uns amigos que vinham visitar a região.
Pedi alguma informação e folhetos promocionais acerca da Serra da Estrela e arredores (em especial da Covilhã). Pedi ainda informação acerca de informação de percursos pedestres que existam na Serra.
E perguntam vocês – o que é que se passou a seguir?
Pois é, o que se passou a seguir foi o que me revoltou. Em relação a percursos pedestres não me souberam dar nenhuma informação, a única coisa que me deram foi um livro intitulado “À descoberta da Estrela”, cheio de cartas militares da região. Perguntei se os percursos estavam marcados, mas a resposta foi que não e que tinham esse livro apenas e que se quisesse seguir esses percursos teria que levar bússola. “Muito bem, pensei eu”. Por mim até me oriento com bússola e carta, mas para quem não tem a mínima ideia é perigoso aventurar-se Serra a dentro com uma bússola na mão. Optei logo por nem dar este guia aos meus amigos, uma vez que não os via capazes de lerem uma carta militar, quanto mais de usarem uma bússola em conjunto com uma carta militar.
Depois deste livrinho, entregam-me um folheto promocional da Serra da Estrela de 8 páginas, que graficamente destaca-se por não ser nada apelativo.
Por último, informações sobre a cidade da Covilhã, ofereceram-me um mapa da A23, que no verso tem um pequeno texto explicativo da Covilhã e um mapa da cidade (cheio de erros, por sinal).
“Obrigado” foram as minhas últimas palavras antes de sair porta fora envergonhado com o que uma RTSE tem para oferecer aos Turistas que visitam a nossa região…

Nesse mesmo dia à noite, analiso então o que me tinham oferecido. O livro não está mal, sobretudo para quem tem um nível avançado de leitura de cartas militares e utilização de bússola. Já o folheto metia dó…

E é sobre este folheto que debruço este post, assim sendo aí seguem as imagens e a minha critica a cada uma das páginas (clicar nas imagens para ampliar):


Primeira página (capa). O primeiro pensamento que me ocorreu foi o que seria do amarelo se não houvesse mau gosto. Não é que não goste de amarelo, até gosto bastante, mas é preciso ser bem usado/utilizado. Ao lado da palavra Portugal aparece um “rabisco”, quiçá inspirado nas gravuras rupestres que têm aparecido na zona de Casegas e Sobral de S. Miguel, que me parece ser uma pessoa a escalar uns “picos”, será?
Ao centro, o logo da RTSE. Gostei em particular do confronto do logo com a fotografia. Como se pode ver, tem tudo a ver (desculpem a redundância), mas ter num logo uns “picos” quando a nossa Serra é tudo mesmo “bicuda”... enfim…


Passando para a 2ª página, apanha-se logo um susto! Será que o esquiador da foto se estatelou na neve? Poderia-se fazer uma votação para perceber o que cada leitor pensaria, mas mais grave que a provável queda é o facto de num folheto promocional da Serra da Estrela estar um individuo, a quem “retiraram” a cara (cá para mim maravilhas do photoshop) que faz PUB ao Hard Rock Café de Barcelona. Será que não haveria melhor imagem que esta para ilustrar o tema neve?
E depois o título “A arte da Montanha”… Aquilo pode ser muita coisa, mas arte não é certamente! Depois o texto, as palavras falam por si, nem vale a pena comentar. O tal “rabisco” da capa, volta a acompanhar-nos nesta página.


Página 3, “A arte da história”, uma nova página um novo “rabisco”, desta vez parece ser um castelo. Legendas das fotos, realço a da fortaleza de Almeida, com “um estilo construtivo impressionante”. Depois no texto gostaria de realçar esta citação “Portugal foi o berço da globalização do séc. XV”, que poderia dar uma interessante tese de doutoramento. Falar de um conceito super actual e reportá-lo ao século XV e tendo o seu berço em Portugal, só nos pode encher de orgulho.


“A arte gastronómica e o queijo da Serra / A arte da Lã”, na página 4, reserva-nos mais umas surpresas. Para além do “rabisco” atrofiado do que parece ser uma ovelha, as fotos que foram utilizadas revelam novamente uma excelente selecção. O chefe de cozinha, cujo logo da sua farda foi pixelizado, apresenta um prato que sinceramente não faço a mínima ideia do que seja ao nível da cozinha regional. E já nem vou falar nos pormenores, porque a imagem está “espelhada”, tal como podem observar pela colocação dos talheres na mesa e da garrafa de “ajnig” (ginja) lá na mesa atrás.
Em relação ao prato que aparece em baixo do lado direito, que pena a imagem estar desfocada e nada apelativa, porque o petisco apresentado merecia melhor publicidade.
Depois, mostrar aquela imagem dos museus dos lanifícios é publicidade enganosa, porque aquela zona ainda não está aberta ao público. Por fim à artesã deixo o meu obrigado pela arte que continua a executar! Pena não haver mais pessoas a seguir os seus saberes.
Os textos mantêm o nível dos anteriores…


E chegamos à “Arte da animação” (página 5). Pergunto-me se o motivo da rizada dos dois rapazitos que vão na telecadeira tem a ver com a legenda da fotografia… “A Estância de Esqui já dispõe de uma moderna telecadeira”. O resto da página já nem me apetece comentar… as palavras falam por si, mas falar de noite e logo a seguir de caça… que sorte eu não ter uma mente perversa (hihihi) senão…


“A arte de um novo alojamento” é o tema abordado na página 6. Olhando para as imagens, só pode ser mesmo um novo alojamento. Fiquei com a sensação de que o alojamento seria dentro de água, pois só aparecem imagens de água. A cara do homenzinho até desfocou com tanto vapor, ou terá sido mais uma vez uma maravilha do photoshop?
Depois interessante mesmo é o “rabisco”, que parece ser um sujeito, deitado numa espécie de cama e com a ponta do que parece ser o nariz vermelho…
Acho que desta página já chega.


Chega agora a ver da página 7 (estamos quase no fim), que trata de rios, vales e uma vez mais a neve.
Para que não julguem que só sei criticar e “deitar abaixo”, aproveito para dar os parabéns ao autor dessa foto do vale glaciário. Diria mais, é a melhor foto do folheto.
Agora em relação ao resto, uma vez mais um “rabisco”, só que desta vez não consegui descortinar o que seja. Alguém me sabe dizer?
Mas bom mesmo é o texto “Modernidade na Neve”. Ora vejamos: “a evolução da Estância de Ski e das Estâncias de Montanha das Penhas da Saúde e das Penhas Douradas conduziu a um ambiente cada vez mais cosmopolita e jovem. As famílias encontram uma natureza e espaços de turismo cultural de grande interesse didáctico principalmente para as crianças.”
Alguém me explica que “espaços de turismo cultural de grande interesse didáctico” são estes e onde estão?! É que juro que não sei ao que se referem…


E chegamos à última página. Para muito já devem estar a pensar “até que enfim…”, para outros “já?!” e ainda para outros “que pena o folheto da RTSE ter apenas 8 páginas…”. Mas é mesmo assim, tudo tem que ter um fim, até mesmo a Floribella terá que ter um fim e atrever-me-ía a dizer que a RTSE (e afins) também terão que ter um fim.
Agora voltando de novo à página propriamente dita. Imagem da Península Ibérica em que Portugal está inclinado daquela maneira só vi mesmo neste folheto. No local que diz “Onde se divertir” talvez fosse melhor acrescentar “Com quem se divertir”, já que aparecem algumas empresas de eventos outdoor e não apenas locais.
Em relação ao resto… já chega. Que cada um tire as suas conclusões.

Para concluir importa referir que esta foi a minha análise dura e crua acerca deste folheto. Resultou da minha revolta pelo péssimo serviço que este folheto faz em prol da Serra da Estrela e relembro que o mesmo é da responsabilidade da entidade, que devia zelar pela excelente promoção desta Região. Não peço às pessoas que tenham a mesma opinião que eu, mas o que peço (e em especial à RTSE) é que haja um maior profissionalismo e dedicação nas acções que promovem. Se acham que basta fazer uns folhetos deste nível e ir a feiras e distribuir os mesmos é apresentar serviço feito, então deixem-me referir que vamos no mau caminho. Cada vez as pessoas (e turistas) são mais exigentes e há que saber fazer cada vez melhor. Não pretendo com este post denegrir a imagem da RTSE, o que pretendo é alertar para algo que deveria de ser excepcional e que, infelizmente, é bastante banal…

7 comentários:

ljma disse...

Parabéns, Cova Juliana! Excelente artigo! Só quero juntar uma achega. O título do folheto é "Onde a natureza vive!", assim, com exclamação e tudo! Mas de natureza não se fala, senão muito à tangente, no folheto. Onde a natureza vive, onde é? Não na cabeça dos senhores responsáveis por este folheto. E em breve, se deixarmos esta gentalha em roda livre, não viverá também na nossa região!
Ainda outra achega: o livrinho "à descoberta da estrela" é uma descrição dos trilhos de grande rota, definidos, documentados e sinalizados pelo PNSE nos anos oitenta, numa época em que tinha uma dinâmica muito diferente da que agora apresenta (e as recentes queixas de Artur Costa Pais não permitem esquecer que o PNSE tem autorizado ou fechado os olhos a muitos e muito graves atentados ao ambiente e à paisagem da serra). A RTSE limitou-se a participar na edição do livrinho (na 1ª edição; a 2ª foi toda às custas do parque). Ou seja: o PNSE, apesar de ter outras vocações, realizou o maior esforço (quase o único, diga-se) no desenvolvimento do turismo de natureza desta região. Nada mau para uma força do bloqueio, hem?

ljma disse...

Só mais outra achega ainda: na região do planalto central, os trilhos de grande rota estão muito claramente sinalizados no terreno (pelo menos, aqueles que eu tenho percorrido mais recentemente: GR T1 e T11, entre a Torre e o Vale do Rossim). Às vezes, até é demais, tanta tinta vermelha já chateia. É que muitos montanheiros, escuteiros e caminheiros entendem dever dar a sua contibuiçãozinha para manter os trilhos sinalizados. A intenção é boa, mas...

Mais uma vez, parabéns. Nas mais pequeninas coisas se vê a foleirice, a parolice, a estreiteza de vistas da gente que manda na serra... Como sabem que não estarão nunca à altura do que a serra representa e exige, tentam diminuí-la até à sua (deles) insignificância e banalidade. E nós? Deixamos?

"O Padrinho" disse...

Ena Cova Juliana, grande trabalho. Realmente há coisas de bradar aos céus neste folheto. a do turismo cultural então e aquela inclinação de portugal vai lá vai... EHEHEHE. Excelente trabalho!

TPais disse...

Sou capaz de jurar que o tipo no "jacuze" é o Costa Pais!!

scorpio mab disse...

muito bom artigo....

ljma disse...

Ainda mais um comentário, Cova Juliana: já reparaste que na secção "Onde dormir" não consta nenhum parque de campismo, nem a pousada de juventude das Penhas da Saúde? Não é estranho o esquecimento, num folheto intitulado "Onde a natureza vive", e nessa medida supostamente dirigido aos amantes do turismo de natureza, entre os quais são muito possivelmente maioritários os que prefeririam este tipo de alojamentos? É, de novo, a contradição entre o título da brochura e o seu conteúdo, de que falei no primeiro comentário.
Mais uma vez, parabéns (e obrigado) por esta autêntica pérola da retórica (mais uma) dos responsáveis pelo turismo na nossa região.

Folhetos Promocionais disse...

Parabens pelo artigo.