Snowboarder de olhos abertos disse... (em relação ao post da polémica...)
Gostava de reforçar a posição do ljma (não sou o seu Padrinho), como resposta ao nossos colegas de debate PG e porque não, também ao cabeleira (que até o conheço pessoalmente).
Ponto 1 - Já frequentei muitas estâncias no estrangeiro (Cantábria, Nevada, Pirinéus e Alpes). Até hoje nunca presenciei o que tive oportunidade de ver nas fotografias. O que vi sim, foi o mesmo processo utilizando ratracks, mas sobre neve, como é óbvio. As únicas vezes que assisti a transbordos de neve utilizando retros e camiões (e não tractores agrícolas com reboque), as retros retiravam a neve das laterais da estradas/caminhos (sem sair destes atenção) e os camiões transportavam-na até à entrada da estância (os ratracks faziam o resto). Tudo bem. Aplaudo
Ponto 2 – O facto de ser retirada dentro da área da estância não implica não inibe a Turistrela de violas constantemente os deveres de qualquer entidade de preservar o espaço circundante. (até hoje, que medidas de fundo e com aplicação prática a Turistrela tem tomado para preservar o espaço interior da concessão? Ou não será também da responsabilidade dela, como principal agente turístico?) A Turistrela detém a concessão da estância, mas não da neve e muito menos do terreno, tal e qual como de uma renda de casa se tratasse. Eu tenho o direito de viver nela, mas tenho que a respeitar, a preservar, a dignificar, pois ela não é minha. Qualquer intervenção que faça, tenho que pedir autorização ao senhorio. É ou não é?
Ponto 3
3a) De certeza que não sabem o que são os cervunais: “Prados de altitudes”. Como é óbvio, só pelo nome dá para entender que são ecossistemas florísticos sensíveis e raros em Portugal, fundamentais para evitar a erosão, quer na zona da Torre (naturalmente bastante propícia à erosão), como das cotas inferiores. (Serão um empecilho assim tão grande?) Pelas imagens, vê-se perfeitamente que nem sabem o que pisam. Nem sabem que planalto da Torre, na qual se integra o espaço vedado pela Turistrela (cuja aspecto legal ainda é duvidoso), está inserido na Rede Natura 2000 (sim, isto existe), que foi considerado por vários organismos internacionais com Zona de Preservação Prioritária (sabem o que é isso?).
3b) O planalto da Torre é o exíguo território preferencial da Lacerda montícola subp montícola (não se esqueçam que os repteis já habitava a Terra muito antes de nós e que são um exemplo vivo de adaptabilidade e sobrevivência). Além disso, esta espécie, em Portugal, está restrita unicamente à Serra da Estrela, a partir dos 1400m até aos 1993m, distribuindo-se por uma área de cerca de 57 Km2. Tem o estatuto de rara, sendo que o principal factor de ameaça é, como não podia deixar de ser, a alteração e degradação do habitat. Se em vez de ser tractor ou retro a carregar neve para vocês irem fazer ski ou snowboard, fosse uma pessoa a circular de moto 4 ou de TT, ou mesmo de bicicleta, será que não tinham a mesma opinião de nós????? O planalto da Torre é o maior exemplo de planalto glaciário (de nome técnico fjeld) de Portugal, possuindo dessa forma, características geológicas e morfológicas ímpares. É óbvio que qualquer movimentação de máquinas tem um determinado impacto e positivo não é de certeza. (não posso dizer o nível de grau, pois não tenho qualificações técnicas para o determinar e justificar).
Ponto 4 - Será que manter a Estância Vodafone Serra da Estrela 1991 (e não 2000. Que mania esta das grandezas.), com uma pista de 100 metros (não sei bem ao certo, mas não deve andar longe), com neve-terra, a um preço de € 25,00. (agora só ao fim-de-semana e mesmo assim: sem comentários) é a real imagem forte que a Serra da Estrela dá? Vocês pagavam para usufruir de um serviço deste patamar?Como turistas, pela 1.ª vez na Estrela, mesmo que embebidos num marketing (duvidoso) de que a mesma tem que ser forçosamente igual ao Algarve e companhia, vocês, como cidadãos, gostavam de presenciar a este espectáculo automobilístico TT?
Seremos nós os fundamentalistas? Aqueles que querem preservar um património, cuja génese remonta a qualquer coisa como cerca 650 milhões de anos, que é de todos, que é um sinónimo de poder da natureza, de preservação, de imponência, de algo que nos viu nascer e evoluir como espécie e que, como tal, merece o nosso mais digno respeito, sem violações, sem estruturas degradantes, sem “showbis” apoiados por pessoas e entidades que pouco mais conhecem do vêm e presenciam da EN339. Eu pergunto. A demagogia e o fundamentalismo vêm mesmo, mas mesmo da nossa parte?
Olhem à vossa volta, explorem, estudem, sintam, vejam o que realmente é a Serra da Estrela e o seu verdadeiro imaginável potencial turístico. Que o seu potencial não se esgota somente na estância nem na neve. Há 20 anos que as entidades competentes dizem que a serra não é só neve. Mesmo assim, todas as suas campanhas e investimentos continuam a bater na mesma tecla (veja-se o último PITER). Como dizia Michael Porter, mais ou menos por estas palavras: uma empresa que continua a apostar num produto que se esgota e cuja utilidade se esvazia ou é incompetente ou é burra.
P.S. Sou snowboarder lúdico (não sem fazer 360, 540, rodeo´s e por aó fora) à mais de 8 anos, que passei a questionar o que está debaixo e para além da neve sobre o qual deslizo. Não só contra a estância de ski, e até sou cliente assíduo (e pago), mas considero que, como tudo, tem que haver equilíbrios. E é engraçado ver que a balança pende sempre mais para um determinado lado. Vocês sabem qual é…é pena.
sexta-feira, janeiro 19, 2007
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3 comentários:
bem dito....
apoiado...adoro ski, tb já frequentei estancias nos Pirinéus (St Larry) e Alpes Suíços(Wengen), para além da Estrela, e acho que o que estão a fazer é um disparate completo!!! Sim, quero ter condições para de vez em quando poder matar o vício aqui na minha região, mas sem que isso ponha em causa tudo o resto. E o que me espanta é que ano após ano a situação da torre continua a ser terceiro-mundista - lixo, edificios que só podem ser apelidados de barracas, falta de arvorees etc, enfim, no Verão parece a aldeia do Borat!!! Antes de melhorar a estancia deviam começar pelo resto
Um leitor deste blogue, que se identificou como PG, escreveu aqui há dias que:
"Quer queiramos, quer não, independentemente daquilo que pensarmos da qualidade dos serviços prestados pela Turistrela, tudo isto tem um leve cheiro a ataque dirigido.
E é isto que não me parece correcto."
Ora evidentemente que é um ataque dirigido. Quer mais um?
Num país civilizado, os responsáveis por uma acção como esta seriam obrigados, no mínimo, ao pagamento de elevadíssimas coimas; no mínimo...
Em Portugal, estes responsáveis, não só têm o desplante de achar que tal acção "é normal" como afirmam que a voltarão a praticar no futuro...
E que ninguém duvide do mesmo, afinal estamos a falar de Artur Costa Pais, da turistrela e de um país chamado Portugal!
Se isto é um ataque dirigido? Eu só queria era que ao fim de 30 anos de democracia, o Estado português assumisse as suas responsabilidades na defesa do ambiente e que de facto nos assumíssemos como um estado de direito.
Aquelas imagens suscitam em mim a maior vergonha pelo país que somos e que insistimos em ser. O direito à indignação ninguém mo tira!
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